Wednesday, May 02, 2007

Estranha Sensação

Hoje, levantei-me sonolento e de ressaca. Passei o dia cansado e triste! Dormi a tarde inteira. Agora são exatamente vinte horas e cinco minutos. Estou sentado à frente do computador e logo começo a escrever alguma coisa. Não sei, porém, o que será, não tenho nenhuma idéia no momento. Se tomar uma dose de uísque e uma cerveja, aí poderá surgir alguma inspiração, algo em torno de uma imaginação, ou invenção. Como é difícil escrever sem um conceito definido, algum tema, uma idéia... Escrever à toa sem inspiração ou emoção é a mesma coisa que falar em vão. É a sensação que sinto agora. Nenhuma inspiração, nada! Escrevo para burlar o tempo e não desperdiçá-lo. Não sei aonde chegar, o que alcançar, nem o que será. Escrevo, só isso. Percebo, agora uma coisa estranha no meu corpo. Sinto minha alma aspirar e desejar algo, só que não identifico sua necessidade. Ainda não estou preparado espiritualmente para coisas sobrenaturais. Sinto-as! Só isso. É um desejo ingênuo, uma sensação estranha de fazer, mas, não consigo trazê-la à tona e transportá-la à realidade, e assim disseminar seus sentimentos. Sinto vontade de ver a luz da lua, acabar com a tristeza, sentar-me à sombra das estrelas, impedir a luz do sol brilhar no horizonte à beira-mar, para ser sempre noite, difundir a beleza da floresta aos incautos devastadores, divulgar o canto dos pássaros àqueles que não ouvem a melodia da vida, fazer ecoar a todos os cantos o som das ondas do mar sobre as areias alvas da praia e enxugar com a mortalha de Cristo as lágrimas amanhecidas do orvalho da noite sobre as folhas verdes do pântano. Sinto vontade de esgoelar àqueles ímpios e avarentos escravos da ganância que, com certeza, irão sentir no futuro a fúria da natureza, por destruí-la e modificá-la, transformando-a no cartão postal de seus instintos perversos e avarentos lucros cessantes. Não consigo, porém, imaginar que alguém em sã consciência pratique tamanha insensatez. Mas, a avidez e a destreza corrompida de quem pode impedir, sobrepõe à manutenção da vida. Destruir a natureza não é comigo! Não tenho predestinação para isso, muito menos, sensibilidade de fazê-lo. Ao contrário, quero agradecê-la pela amplidão dos benefícios que nos proporciona para continuarmos vivendo. É ela, a Natureza, que nos invoca nos momentos da solidão, nos dá a inspiração para descrevê-la e nos faz esquecer a tristeza, nos momentos que a sentimos e observamos. Admirar sua beleza e usufruir os seus privilégios é tudo o que desejamos e queremos para que possamos dela alcançar e desfrutar a harmonia. Fico maluco sem saber o que fazer para conservá-la. Faça! Mas, fazer o que? Questiono-me.

Ai, somente uma sombra encobre o meu quarto, desligo o meu computador, apago a luz do abajur, e me dirijo ao leito. Apenas, penso! Uma tênue sombra da luz da rua ilumina o corredor que dá acesso ao quarto. Acompanho-a. Não tinha porque não segui-la, tenho a nítida impressão de que ela me força a acompanhá-la.

Sento-me numa cadeira ao lado da cama, diante de uma pequena biblioteca de livros e outros cadernos que me abastecem as noites de insônia, e abro um livro, exatamente àquele que estava lendo. “Solo para Ti”, de Luigi Augusto Oliveira. De repente, senti uma sensação que me forçava a não lê-lo. Não li. Voltei à estante e peguei outro livro. Mas, também não era esse o livro que queria o meu instinto. Cheguei à biblioteca encaminhado pela luz. Parei e fiquei à espera de que algo pudesse me iluminar. Peguei outro livro desta vez, “Dispersão”, de Mario de Sá Carneiro e antes de chegar ao final percebi que havia percorrido o tempo! Voltei ao passado. Neste instante, pude compreender todo aquele sentimento da alma e toda a frieza que escorria pelo meu corpo. Tive inveja de Sá Carneiro e repeti: “Eu fui alguém que passou e perdi-me diante de mim”. Sou impotente para salvar a Natureza!

1 Comments:

Blogger Eduardo Miranda said...

Puxa pai, ficou bem legal. Gosteiu da trama e da solução final que o sr. deu... Parabéns!!!

Thursday, 03 May, 2007  

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