Wednesday, May 02, 2007

Noite Infeliz

“Eu bebo para as outras pessoas ficarem mais interessantes”
George Jean Narthan

Numa noite de dezembro, véspera do natal, do nascimento de Cristo, nosso Pai e Protetor, ele chegou em casa bêbado e abodegado pelas tantas quedas que levara. Seus olhos estavam congestionados e amarelados pela enorme quantidade de bebida alcoólica que ingerira com amigos em algum canto da cidade. Faltavam poucos minutos para a meia-noite.

Nada teria mudado sua vida, não fosse o casamento feito às pressas que a justiça lhe obrigou contrair para reparar o crime de sedução que havia cometido. Jamais amou aquela mulher. Queria continuar vivendo como sempre vivera: solteiro e feliz, sem qualquer compromisso, notadamente com aquela mulher que lhe causou todos os dissabores da vida. Não havia razão para continuar morando no mesmo teto. Por isso bebia e buscava no álcool a solução dos seus problemas. Sempre foi covarde! Não tinha coragem sequer de pedir o divórcio, por que a pensão que ela exigia ultrapassava a metade de seu salário, e ainda a partilha dos bens, com o qual discordava. Estava engasgalhado. Não tinha como sair desta fria. Curtia as mágoas numa mesa de bar junto com outros companheiros partidários do mesmo infortúnio.

Em torno da mesa estavam sua mulher, seus pais, os pais dela, os cunhados e vizinhos.

Naquela noite de esplendor e alegria, de amor e sentimento, de ausência e presença e de farta comida sobre a mesa, nada faltava, exceto ele, um pusilânime. De repente, cambaleante e emborrachado, ele chegou, não para compartilhar a felicidade da família e de todos os presentes, mas para trazer a discórdia, a desarmonia e o ódio. Ninguém imaginava cena tão triste numa noite de natal. Por não se agüentar de pé, esborrachou-se sobre a mesa e vomitou todo o conteúdo armazenado no estomago. Um tombo inefável o fez cair ao solo que o levou ao sono profundo, devido à coma alcoólica, em meio à sujeira que expelira. Assim permaneceu, sem que ninguém se compadecesse do seu estado físico e moral. Lá ficou! A mulher e os parentes, não contendo as lágrimas, a vergonha, a decepção e o constrangimento, abandonaram o lar, deixando-o à mercê da própria sorte.

No amanhecer do dia seguinte com a cabeça estalejante, levantou-se do meio da estrumeira, e não vendo ninguém em casa, chorou de tristeza e sentiu vergonha pelo que havia causado. Finalmente, criou coragem e tomou a decisão certa. Separou-se.

J.Miranda Filho

12/06

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