Wednesday, May 02, 2007

Ame-o Ou Deixe-o

- Bom dia! Disse Doutor Afonso.

- Bom dia, respondeu o cidadão desconfiado.

- Tudo bem?

- Tudo bem, e você?

- Também, estou bem!

- O que fazes aqui?

- Por acaso, tu me conheces?

Doutor Afonso tinha a nítida impressão que conhecia aquele cidadão. Já o tinha visto antes. Não tinha qualquer dúvida.

-Conheço sim, e queria saber o que fazes aqui.

- Do que estás falando? Nunca o vi antes em minha vida!

-Que é isso colega! Não te lembras quando nos encontramos em Manaus, no ano passado, no II Simpósio sobre Violência, patrocinado pela Ordem dos Advogados do Brasil? Replicou Doutor Afonso, com veemência.

Certamente ele se lembrava, mas como estava acompanhado de Juristas e Professores Universitários, que vieram a São Luiz proferir palestras na Universidade local sobre a dissensão da organização criminal entranhada nos poderes da Republica, fez-se de rogado, e desprezou-o. Deu um deixa pra lá. Deu de ombros, meia volta e seguiu seu caminho. Não seria um simples episodio deste que iria alterar sua personalidade, seu comportamento e sua auto-estima. Pareceu-lhe a pervertida demasia de alguém se julgar importante, quando está no meio deles! Participou da palestra sem fixar seu olhar, em momento algum, àquele que antes lhe desprezara.A palestra prosseguiu com a participação de vários oradores.

- “É o eterno temor de se morar numa cidade grande e violenta, dominada pelo medo! Disse um dos palestrantes, dando continuidade a conferencia”.

- “Vive-se o dia-a-dia sob o estresse do terror. Os crimes acontecem continuadamente, sem que as autoridades responsáveis pela segurança da população encontrem o pretexto definitivo de combatê-los”, disse o outro ““.

- Não tem a menor relevância para a sociedade, se o delito foi praticado por menores de idade ou por profissionais formados na escola da criminalidade, disse o terceiro palestrante.

Neste momento, alguém da platéia solicita uma questão de ordem e a presidência da mesa concede-lhe a palavra.

-A policia prende e a justiça solta. É o jogo do empurra-empurra! Enquanto isso, a população se recolhe e se aprisiona em suas casas, vítimas do próprio medo. Replicou um advogado de Goiás, sentado ao meu lado, um tanto tremulo e nervoso.

-Vejo-me prisioneiro sem ter cometido qualquer crime, apenas por ser honesto e acreditar nos políticos que praticam os delitos mais hediondos e por eles nunca são punidos.Exemplos não nos faltam: Desde os mais humildes aos mais graduados membros dos poderes da Republica, disse com ênfase na voz.

-Há sessenta anos atrás era um jovem alegre e cheio de vida. Saia às ruas para diverti-me nas baladas das noites goianensses, sem qualquer receio de voltar pra casa. Não havia nada do quê temer. Não tinha medo de coisa alguma, mormente, dessas barbáries que soem acontecer nos dias hoje, que àquela época não existiam. Havia apenas batedores de carteira, pés-de-chinelo, nos trens de subúrbios, nos ônibus e nas ruas, que sorrateira e habilmente, surrupiavam as inânias do bolso dos passageiros e transeuntes distraídos. A vida era bela...Hoje, pagamos o preço do progresso. De simples ralés batedores de carteira, a intelectuais do crime, juristas, desembargadores, policiais, políticos e ministros, todos criminosos, alguns com diplomas de universidades oficializadas, outros, diplomados nas “universidades prisionais” superlotados do país. Se o Estado não tem a estrutura e nem as mínimas condições de socializar o preso, recuperá-lo e reintegrá-lo novamente à sociedade, é por que não deseja tê-las. Talvez tenha suficientes razões para não fazê-las. Afinal, se assim o fizesse, estaria extinguindo a mais sublime e legitima oportunidade, de não conseguir jamais amealhar alguns reais insecáveis em suas pretensões criminosas, a exemplo de falsas sentenças expedidas a preço de ouro, por quem tem a obrigação ética, moral e profissional de nos proteger. As prisões se transformaram em verdadeiras faculdades do crime. Lá, quando recolhidos se especializam em seqüestros, assaltos e outros delitos.Nesta altura do seminário o colega havia dominado a platéia. Todos o aplaudiram de pé.

-Onde estou? Em que país vivo? Não sei aonde chegar! Ignoro o destino dessa gente ordeira e trabalhadora que paga seus impostos, e vive reclusa de si mesma. Se as autoridades constituídas, àquelas em que a sanha da avidez não as dominou ainda, a quem competem combater a criminalidade não adotarem serias providências, o país vai à derrocada. Sucumbem-se todos os poderes, e os valores sociais e morais da nação serão expurgados por aqueles que não os tem. Se falta a competência e a honestidade aos governantes para administrar o país, melhor seria lavar a lama que o assola, devolvê-lo aos portugueses pedindo-lhes desculpas pela falsa moral administrativa, e dizer-lhes que assimilaram muito bem o exemplo recebido no passado, no período colonizador, e, que já tiraram com bastante avidez o quinhão que lhes era devido.

Foi aplaudidíssimo!

SCSul, 10/02/2007

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