Thursday, May 28, 2009

O Pesadelo das Drogas

Não sei para onde vou, nem sei se vou chegar. Vago pelas ruas à procura de um abrigo para o meu corpo frágil e debilitado. As estroinices do passado transformaram-me num farrapo humano. As noites mal-dormidas ao relento, sob a luz das estrelas num banco de jardim, aquecido pelo consumo do álcool e das drogas, tornaram-me distante da família: pai, mãe, esposa e filhos. Dos amigos, nem pensar.Todos me repudiam, como se eu fosse um lixo. Na verdade, o sou. Mas, foram todos eles que me levaram ao fundo do poço, para um futuro sem volta. Sem esperança alguma de recuperação andei à ermo pelas ruas da cidade à espera de um ombro amigo, se bem que ainda havia em mim uma réstia de luz a me nortear o amanhã. Não tinha sentido algum prosseguir nesta caminhada para o inferno. Pensar no futuro era difícil, não conseguia, porque o efeito maligno de sensação de bem-estar deixado pelas drogas, me impedia de fazê-lo. O futuro para mim era tênue porque seria a mesma coisa que o presente. Não tinha vontade de amar alguém ou amar-me a mim mesmo. Nem sequer tinha vontade de pensar. Quem partilharia seus sentimentos com um andrajo mal-cheiroso? No entanto, um filetinho de esperança ainda tinha no peito. Nos momentos sóbrios da vida que eram poucos, mantinha uma sensação de um dia voltar ao passado, reatar as boas amizades, reorganizar a família e voltar ao seio social, do qual fui expulso por faltar-me a consciência e por induções de falsos amigos. Numa madrugada fria, após despertar do efeito maligno, tive uma alucinação em que me via embarcando num avião rumo a um lugar, cujo nome não conseguia me lembrar depois. Era uma pequena cidade – disso me recordo bem. Lembro-me de suas ruas. Eram tortuosas, tal qual a trajetória da minha vida. Tudo era escuro para mim. Somente eu e minha sombra andávamos pelas alamedas da cidade, cujas arvores impediam as estrelas refletirem sua luminosidade sobre o meu caminho. Andávamos, eu e minha sombra, um ao lado do outro, parecendo dois andejos inseparáveis. Minha sombra me causava medo. O medo que me atormentou a vida inteira e me perseguiu até o fim. A sombra que projetava minha imagem refletida pela claridade das luzes das janelas das casas ainda acesas, e que iluminava o meu caminho, queriam me levar a um lugar seguro. De repente parei e vi-me diante da minha sombra.

Sobressaltado pela figura tenebrosa que me acompanhava perguntei-lhe, ainda transtornado sob o efeito mortal das drogas.

-Quem é voce? O que quer de mim?

- Sou você mesmo. Não se reconhece mais? Respondi-me inconsciente.

Por alguns instantes trocamos insultos e empurrões. Lutamos ferozmente, tão vil e deplorável era o meu estado físico e mental.

De pose de uma faca que portava na cintura, desferi-lhe vários golpes mortais. Ela caiu postada ao chão, desfalecida, enquanto eu fugia pelas ruas desertas, gargalhando de alegria por ter vencido o inimigo. Feri-me gravemente, eu sei, mas alguém enviado por Deus que por ali passava no momento, padeceu-se do meu infortúnio e levou-me a um hospital. Finalmente livrei-me do infortúnio, venci a desgraça, e hoje sou livre e cheio de esperanças para recomeçar a vida.

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