Saturday, May 16, 2009

Falsa Ilusão

Meu filho tinha quinze anos. Sempre mantivemos um dialogo honesto abordando todos assuntos que interessam aos jovens de sua idade. Entre ele e eu não existiam paridades, quer absolutas ou relativas, desde que o assunto visasse sobre sua formação moral e cívica.

Certo dia logo ao amanhecer, ansioso e preocupado por não vê-lo na cama, ele chegou sorrateiramente e me disse:

-Sei que o Senhor não vai gostar, mas ontem à noite fumei maconha na festa de um colega, do qual o Senhor não gosta.

O mundo desmoronou para mim naquele instante, porque jamais imaginava que um filho meu fosse usuário desta desgraça, praga, veneno, miséria, seja qual titulo queiram dar alguns defensores desta desdita, que destrói milhares de lares, e transforma em farrapos humanos dezenas de jovens afoitos em provar sua masculinidade e testar a adrenalina que dizem possuir.

Cabisbaixo, mas com semblante sereno, para não deixar transparecer o ódio que me dominava naquele instante, chamei-o amavelmente e lhe disse:

- Filho, você se lembra da ultima vez que se sentou no meu colo?

Ele levantou os olhos lacrimejados, aproximou-se de mim e num gesto que jamais esquecerei, respondeu-me:

-Pai, cruze as pernas.

Foi o momento mais sublime que experimentei na vida. Afinal, ele já completara quinze anos de idade, suficiente para tornar-se independente e enveredar-se para o caminho do mal.

Sentou-se no meu colo e abraçou-me chorando.

Meus anos de experiência enrijecidos pela idade, mas firme para acolher àquele que era a continuação da minha vida, o ser que mais amava, antes até de mim mesmo, fizeram-me sutilmente atender-lhe. Cruzei as pernas e lhe disse:

-Diga-me, conte-me o que aconteceu.

-Por que você foi à casa desse seu amigo, sabendo que eu não gosto dele por ser por ser uma pessoa desconfiável?

- Pai, há momentos na vida que a gente se sente feliz fazendo coisas erradas. Isso está na nossa idade, no nosso ego, na adrenalina que temos de expelir do corpo.

- O Senhor não entende dessas coisas, porque sua idade já passou, já era, meu pai! Os tempos são outros!

No momento que ele me disse essas palavras, senti meu sangue ferver em todas as veias do corpo. Mas, contive-me, ou Deus me deu este momento para ponderar.

-Filho, realmente você tem razão quanto à idade, mas nunca despreze o amor e o sentimento que lhe devoto. Amo-o mais que qualquer coisa na vida e desejo vê-lo sempre feliz. No entanto, há sentimentos descomunais da vida que a razão desconhece e ignora, em detrimento do nosso querer, e nos impinge tomar decisões, às vezes contrárias à nossa vontade. Ignoramos o lado paternal e do amor.

- Não sei se desconsidero tuas palavras ou se dou cabo da tua vida agora, ou tento mais uma vez recuperar-te dessa infâmia.

Seus olhos fixaram-se languidamente nos meus, num ímpeto de agonia e tristeza. Ele sentiu, naquele instante a dor, a aflição e a agonia de um pai..

-Pai, juro-lhe, disse-me abraçando e beijando-me. Pelo mais sagrado amor que existe no mundo, jamais farei uso de drogas, mesmo que para isso tenha que dispor da própria vida.

-Não é necessário isso filho, disse-lhe sorrindo e beijando-lhe. Foram os momentos mais felizes da minha vida, que tanto pedi a Deus em minhas orações. Ficou no meu colo até passar suas convulsões.

Muitos anos depois, afastado dos falsos amigos e recuperado das drogas, meu filho hoje é executivo de uma empresa multinacional, e dirige uma ONG para recuperação de jovens usuários de drogas.

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